sábado, 25 de julho de 2015

Analogia do Destino

Eu nasci de uma barriga
Que nunca me quis por perto
Me deixou no hospital
Para ela nunca importou
Se eu estava bem ou mau

Quando ainda tinha dias
Fui deixado num abrigo
Eu não sabia o porque
Me colocavam no braço
Mas ninguém ficava comigo

Quando tinha cinco anos
Mudei para outro orfanato
Eu já tinha um registro
O meu nome, José Cicero
Pai e mãe desconhecidos

E lá pros meus sete anos
Eu conheci um casal
O casal me adotou
Eles eram enfermeiros
Daquele mesmo hospital

Daquele dia em diante
Eu recebi tanto amor
Dos pais que me adotaram
Que nem me lembrava mais
Do que passei no orfanato

 E quando eu tinha quinze anos
Então eles me chamaram
Para contar minha história
Da luta pra me encontrar
E porque me adotaram

Me prepararam bastante
Para o que eu ia escutar
Era uma história bem longa
Ruim de compreender
Difícil de explicar...

Por que minha mãe me deixou
E agora nesse momento
Tudo vinha em minha mente
Já estava enlouquecendo
E meus pais em minha frente...

Eles estavam nervosos
Mais nervosos do que eu
Jamais iria deixa-los
Mais eu queria saber
Porque fui abandonado

Então ela começou, filho antes de tudo
Que iremos te contar quero que saiba
Que te amamos e nunca esteve em nossos planos
Um dia te adotar, mais foi o que Deus queria
E nos fez naquele dia jurar que te encontraria

 Sua mãe não tinha parente para essas bandas de cá
Estava com nove meses e sofreu um acidente
Ela foi atropela por um bêbado no volante
Já chegou em agonia, nenhum documento tinha
Nem o seu nome eu sabia e sua dor era constante

Mas antes dela partir ela me pediu chorando
Para cuidar de você, mas eu já era casada
E tinha que esperar a decisão de seu pai
O dinheiro era pouco pra cuidar de uma criança
Nossa vida era trabalho e não tínhamos quase nada...

Só que em meio dessa indecisão da gente
A assistente social lhe levou para um orfanato
Mas nós corremos atrás e arranjamos outros trabalhos
Se passaram sete anos até nos reencontrarmos
Tudo ficou mais difícil era grande o compromisso com trabalho e os horários

Amamos você meu filho, somos pobres mais honestos
Você é um bom menino e o que a gente queria, era poder lhe dar o melhor
Aquilo que não tivemos, e ainda seria pouco hoje o seu pai ficou louco
Sei só o amor não basta e agente sempre quis o melhor para você
E agora vou lhe explicar qual é a nossa aflição espero que escolha o melhor...

Ontem seu pai descobriu que sua mãe biológica
Tem família e muito rica ele viu num jornal antigo
De dezesseis anos atrás que estava indo para o lixo
Nele tinha uma matéria, filha de milionário está desaparecida
Tinha a foto de seus avós chorando desesperados, o que eu faço com isso

 Pensou seu pai muito aflito ele tinha que pensar como íamos lhe dizer
Está chorando no quarto enquanto eu estou aqui lhe explicando tudo isso
Estou morrendo de medo de você não entender
Filho você nos desculpe mas tínhamos que te dizer
Essa é a sua vida, você tem todo o direito de saber quem é você

Eu tomei a liberdade de ligar para o seu avô, ver o que ele ia dizer
Ele marcou um encontro e me pediu uma foto para ele poder lhe ver
Pegou na foto tremendo chorou muito, soluçava e disse desesperado
Ele tem tudo dela, os cabelos, o olhar, o jeitinho de sorrir, ele é o meu presente
Quero ele perto de mim, você cuidou do meu neto como posso lhe agradecer

E me pediu um encontro, seu avô quer ver você e agora estou com medo...
E depois de quinze anos lá ia eu morrendo de medo, curiosidade, desejo...
Minha alma ria por dentro só esperando o momento de abraçar meu avô
Cheguei meio inibido pois eu nunca tinha visto uma casa assim tão grande
Quando ele me viu sentou-se me olhou dos pés à cabeça aí veio e me abraçou

Minha vó veio em seguida, me beijava e chorava, ela nos deixou você
Era só o que dizia, sua mãe era minha vida, pensou que iria ser castigada naquele instante
Só porque estava grávida por isso saiu de casa ainda com quatro meses
Ela desapareceu pensamos que era sequestro ficamos sem entender nada
Pois não pediram resgate, e ninguém imaginava que ela estivesse gestante

Durante todo o tempo o meu avô continuou em pleno silêncio, ele só me observava
E depois que todo mundo voltou ao seu normal aí chegou a hora que eu já esperava
O quanto eu era amado eu já sabia, mas agora ser presente, dadiva e outros adjetivos
Lhes digo sinceramente nunca pensei nesse mundo ser um dia tão querido
E agora é chegada a hora, me digam o que você faria, sendo você em meu lugar escutando este pedido

 Meu filho, meu netinho, sei como foi criado e sei também do carinho
Das horas de sono que passaram estando preocupados quando você adoecia
Da frustração do não poder, mas querer lhe oferecer sempre o que nunca tiveram
E sei também da dor que seus pais sentiam quando não podiam dar o brinquedo que pedia
E sei também de todo amor incondicional que eles lhe deram...

Mas nós dois já estamos velhos e tudo que temos agora é seu
Peço que venha morar conosco para que fiquemos mais perto
E senti que meu avô foi ficando meio tremulo e seus olhos encheram d'água
Intendi que a vida deles se transformara em deserto
E eu agora seria o regador para regar suas magoas

E depois de muito pensar eu pude analisar que esse era o meu futuro
Sei que o sofrimento veio para que eu pudesse dar valor a cada momento vivido
E que agora já era um homem e já se foram as velhas coisas de menino
Mas uma coisa doía, ardia o peito, como iria explicar o que havia decidido
Meus avós, meus pais, como iriam reagir ao que iria decidir a respeito do meu destino

Então olhei pro meu vô e disse, não posso deixar os meus pais
Foram eles que me formaram, foram eles quem lutaram e me guiaram até agora
E disse para os meus pais, não sei se vão me entender, mas não dá pra perder mais tempo
Pelo esforço de vocês encontrei os meus avós e agora chegou a hora
De agora retribuir a vocês todo amor que me deram estando em cada momento

E agora seremos uma família, vocês são a minha vida...

E você o que faria, que escolha, que final isso teria
Como é que terminaria a minha história bem agora
E se você fosse eu o que é que você faria????

Podem deixar comentários e me ajudar a escrever o final dessa história...


Silvio Romero Barbosa Leite


terça-feira, 14 de julho de 2015

Caminhoneiro


Pai de família, olhar cansado
Para-brisas é seu escudo
A boleia a armadura
De um corpo fadigado

Na estrada a esperança
Em cada curva uma historia
Em cada posto a solidão
Amiga de todas as horas

Ainda de madrugada
Bate pneus, pé na estrada
O único destino certo
É o endereço da carga

Mas logo volta pra casa
E chega quase a noitinha
E beija a esposa, abraça os filhos
E de manhã, é pé na estrada...

No caminhão dois gigantes
um lá fora outro guiando
e um coração apertado
por todos que vai deixando

Mas tens que ir pra estrada
e seus pneus embolar
pois se um dia parares 
e deixares de rodar, o Brasil para



Silvio Romero Barbosa Leite