Língua
firina
Pobrezin do Zé cambiteiro
Cabra bom trabaiadô
Dos seu devê cumprido
E todo mundo sabia
Lá no arraiá inteiro
Zé tinha uma fia pura
Moça maguinha e esguia
Os peito duro rabuda
O sonho do brasilêro
Mais que já era conhecida
De quase todos vaquero
Sua mulé era crente
Daquelas que vai pru céu
Usava os vestido longo
Desse de manga cumprida
E seus cabelo era o véu
Mais quando com as irmã
Começava a conversa
A mule de Zé vaquero
Só queria se gaba
A minha fia é muito santa
O meu marido também
Mais a irmã tinha um defeito
Falava de todo mundo
Não escapava ninguém
Tinha uma língua firina
De tudo a mulé sabia
E dela quem escapava
Era o marido e a fia
Até do pobe vigaro
Ela meteu-se a
fala
Dizendo que o santo home
Já tinha uns quinze fio
Cum as melé do lugá
E o Zé vaquero coitado
De nada disso sabia
Sua mulé era santa
E sua fia acochada
Quinem caneco de gia
Um dia um cabra foi pergunta
Da honra de sua fia
E Zé queria briga
Na hora puxo a faca
No meio do arraia
E num momento chegou
A turma do deixa disso
Ô home acabe com isso
Você qué se desgraçaE
foi preciso dez home
Para o Zé sigurá
E Zé continuô brabo
No arraiá a grita
Na santa minha mulé,
E na honra da minha fia
Ninguém num pode falar
Agora sês vejam só
O que é a língua paga
Com uns seis mese despois
Apareceu de mudança
Um circo pro arraia
O dono era o paiaço
O biletero, o pipoquero
E até o cozinhero,
E bicho ninhum tinha lá
O dono mané batista
Só não era trapezista
Pois o home da função
Tinha um nome singular
Eu só não sei a razão
Daqueles triste apelido
Seu fosse chamado assim
Nem queria ter nascido
Mai quando o dono do circo
Chamava o cidadão
Era de mão de pilão,
Alaigadô de cacimba,
Burro preto ou mangará
E a noite chegou à hora
Do circo sá presentá
E o dono tava na frente
Chamando o povo a gritar
No meio do espetáculo
Entrava o trapezista
Cum a rôpa tão reluzente
Que até duia na vista
Era uma rôpa acochada
Que maicava os pissuido
E quem via intendia
A razão dos apelido
Lá nele tinha um volume
Nas parte do cidadão
Que quem via de relance
Achava que aquilo era
A tromba dum elefante
Mais vocês nem imagina
O que qui aconteceu
Cum a fia de Zé vaquero
O que se assucedeu
Quando ela oiô nos oio
Do rapaizão trapezista
Ela e ele sintiro
Amor a primeira vista
E ele foi conversa
Com aquela moça prendada
Que pudia tê de tudo
Mai de prenda não tinha nada
Quando Zé vaquero viu
A fia ali conversando
Foi logo dizendo brabo
Fia minha num namora
Nem passeia cum ninguém
Só sai de casa casando
A mãe da moça quando viu
O furdunso se formando
Chegou logo à conclusão
Os dois tava se amando
Chamo logo as irmã
Começo a se gabar
Logo no fim desse mês
Minha fia vai se casar
Cum um moço da capitá
Fôru ajeitando tudo
Pruma festa bem bonita
Os noivo apaixonado,
Os bolo, os laço de fita
O pastô, a sirimonha,
O povo, os padrinho, os anel
E o trapezista pensando
Na bela lua de mel
Terminando a sirimonha
Os dois saiu na carrera
Nem esperaro a festa
Nem o fim da bebedera
Quando chegaro in casa
Nem quizero cunversá
Foru logo se bejando
E toda rôpa tirando
Para o ato consumá
Mais ela era muito esperta
Foi logo apagando as vela
E entro cum o seu amo
De baxo dos cubertô
O mundo era dele e dela
Quando ele subiu em cima
E começô a fricção
Na merma hora sartô
Para o lado do colchão
Mandô-la visti a rôpa
E saiu só de calção
Foi puxando pelo braço
A fia de Zé vaquero
Que pra ele era donzela
E da mulé que falava
Das fia de todo mundo
E dizia que de cabaço
No mundo só tinha a dela
Levô-la pra o pai dela
Chamô o povo na rua
Mandô buscá sua mãe
E começô a falá
Já andei por todo canto
Nesse mundo de meu Deus
Conheci muitas mulheres
E gostava dos apelido
Que elas butava nêu
Por onde eu andava
Ai, as mulhé gritava
Lá vem a mão de pilão,
Alaigadô de cacimba,
Burro preto, mangará
E ficava orgulhoso
Ouvindo elas me chamá
Mais dispois dessa tragédia
Me esqueci de quem era
E só penso em me matá
Vocês tão vendo essa moça
Com esse jeitinho sensive, facera,
Assim meia derrengada e mole
Vocês num sabe do fole
Difice e ruim de tocá
Nem todos os sanfonêro
Que tem no Brazí intero
Tocaria nesse fole
O hino nacioná
Se fô falá de espaço
Juntano o Big Bem,
O Pão de açúcar tamém
E dez campo de futibó
Cabia nesse locá
E tudo isso fazia cum as perninha fechada
Pois se abrisse as bichinha
Até o planeta terra
Era bem fácil entra lá
Sem ofendê nem as berada
Nem o fundo do lugá
E Zé vaquero coitado
Abraçô sua mulé
E saiu os dois calado
Cum a língua no sedém
E nunca mais quis brigá
Nem sua mulé falá
Da vida de seu ninguém
E hoje eles vive bem
Morando no arraiá
E a fia puta de Zé
E daquela santa mulé
Se danô prum cabaré.
Bichinha, e foi?coitadinha...
Ela ganha a sua vida
Dando o seu bicho
A quem quer
Deitada de quato pé
Na posição que quizé
E pra ninguém bota defeito
Eu nunca vi uma mulé
Se arreganhá desse jeito
Como ela é boazinha
passando a
noite todinha
Dormindo na peda humi
E está sempre ripitino
Como eu sô apertadinha.
Silvio Romero Barbosa Leite
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