quinta-feira, 5 de março de 2020

FÉ DE MAIS TAMBÉM ATRAPALHA?

Maria Rosa morena
Morava no mei do mato
De baixo de um oitizeiro
E mesmo sem ter dinheiro
Vivendo um vida simples
Maria Rosa sonhava
Em ir para o Juazeiro
O pai de Maria Rosa
Era enfermo e acamado
Nem falava nem andava
Até pras necessidades
A Rosa era que limpava
E já sofrera um bocado
Por causa de uma queda
Que levara de um cavalo
Dizia um rezador
Que tinha perto dali
Que padrin Ciço Romão
Podia lhe acudir
Lhe restaurando a saúde
Maria Rosa era pobre
Mas lhe sobrava atitude
E Rosa juntou à fome
Com a vontade de comer
Foi na beira do riacho
Encheu a cabaça d'água
Botou o seu pai nos braços
O deitou numa carroça
Só pensando nas palavras do velhinho rezador
E em seu pai ter saúde
E partiu pra o Juazeiro
Num queria nem saber
Um cavalo a carroça
Um saco com umas mudas
Farinha e rapadura
E com água uma cabaça
Era tudo que levava
A moça cheia de fé
Ela e o pobre pai
Viajaram muitas léguas
E quanto mais ela andava
Mais estrada aparecia
Sol a Sol e noite a dentro
Parava por um momento
Um cochilo um gole d'água
Um taco de rapadura
Um punhado de farinha
E voltava pra estrada
Foram quarenta e cinco dias
Sofridos de caminhada
Muito mal eles comiam
Parecia um pesadelo
Mais sua fé foi mais forte
Ajoelhou e chorou
Quando avistou Juzeiro
Chegando lá no lugar
Procurou se informar
Como fazia pra falar
Com Padrin Ciço Romão
E falou com as beatas
Falou com o sacristão
Aí lhe mostraram a fila
Que tinha pra ele benzer
E olhando assim por alto
Contou pra mais de cem braças
De gente pra ele atender
Mais sem muita serimonha
Pensou assim desse jeito
Se a fé remove montanha
Nós fica qui nessa fila
O meu pai vai ficar bom
Tudo vai se resolver
E se passou mais dois dias
Andando naquela fila
E quando chegou a hora
Do seu pai ser atendido
De pelo padrim ser benzido
Que levaram o velho homem até os pé do vigário
Já fazia uns cinco dias
Que o velho tinha morrido.
A fé de Maria Rosa
Fez a mesma se esquecer
De alimentar seu pai
E até dar-lhe de beber
Ela só se lembrou a cura
A fé de Maria Rosa
Se tranfomeu em tortura
Sem comer e sem beber
O seu pai não suportou
Aquela viagem longa
O pobre velho matou...
Rosa pensando na cura
A fé na sua cultura
Nas palavras do rezador
E ao colocar seu pai
Bem aos pés do vigário
Teve o corpo encomendado por padrin Ciço Romão
O velho foi enterrado
Com horas de coronel
E se ele foi pro céu
Eu nem sei nem me interessa
Pois aqui a pisada é essa
Se não escreveu comeu
E se o veio não comeu
Foi por que não escreveu
Pois que escreveu fui eu
No que eu escrevi aqui
A há verdade alfuam
Isso é só mais um conto
Do poeta revoltado
Que por enquanto está só
E nem tô preocupado
Pois é bem melhor Ta só
Só que mal acompanhado
Eu tô certo ou tô errado?


SÍLVIO ROMERO BARBOSA LEITE.

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